"— O quê, Jeff? Quer saber se ele fez todas as coisas que um estuprador faz? A resposta é sim. Quer saber se, apesar do fato de estar sendo obrigada, senti prazer no ato físico? Não! Não! Não senti! Eu não o queria dentro. . .
— Chega!
— Não! Você queria saber de todos os detalhes, não é? Então eu vou lhe contar. Ele era grande, forte e me atirou no tapete. Ficou puxando minhas calças até romper o zíper. Disse que me mataria se eu não o ajudasse a tirá-las. E minha roupa de baixo. . .
— Tricia, não faça isso — implorou Jeff, desesperado.
— Eu o ajudei a tirar. E teria feito qualquer outra coisa, porque não queria morrer. Qualquer coisa, Jeff. Já chegou a ter tanto medo de morrer, a ponto de fazer qualquer coisa que lhe pedissem?
— Tricia...
— E então, ele me obrigou a. . . Ele me obrigou a. . . ficar deitada, parada e... Ah, meu Deus, ele era tão pesado...
— Pare com isso! — ele gritou, atirando o copo vazio no chão.
Tricia ficou paralisada. Sua respiração estava ofegante.
Queria correr, sumir dali, mas suas pernas se recusaram a atender ao comando da mente.
— Não acusei você de coisa alguma. Eu tinha apenas que perguntar. Não sei por quê. Por favor, Tricia, estou tentando aceitar o fato. Dê-me apenas um minuto.
Tricia riu inesperadamente. Foi um riso nervoso, estridente, que a sacudiu como se uma corrente elétrica lhe percorresse o corpo todo.
— Boa sorte, deputado. Espero que o consiga. Meu marido precisou de muito mais tempo, se bem me lembro. . . oh, Deus! E como me lembro! Ele nunca mais me tocou. Eu estava maculada, suja. Afinal, tinha sido possuída por outro homem. Tentei fazer amor com Dennis depois de tudo, mas como resposta tive a sua rejeição.
"Eu devia matar os dois!", Jeff pensou, desvairado.
Com o rosto pálido e contraído, Tricia continuou:
— O corpo de jurados considerou o homem que me violentou inocente. Ele disse que eu o tinha seduzido. O júri acreditou nele. Mais tarde, Dennis. . . me perguntou se o veredicto tinha sido justo, se eu tinha realmente seduzido Paul Nelson Bolden. — Sua voz elevou-se num impulso de indignação. — Meu próprio marido me perguntou se eu tinha seduzido outro homem! Eu me recusei a responder. Ele não merecia saber a verdade.
Ela apertou o estômago com as mãos.
— Oh, Deus, não estou me sentindo bem.
Jeff estendeu a mão a fim de ampará-la, mas hesitou. Receava tocá-la depois de tudo o que ouvira. De repente, não sabia o que fazer.
Tricia percebeu sua hesitação; mais uma vez sentiu a dor da rejeição. Ele também não a queria; nem mesmo podia tocá-la.
— Saia, por favor — pediu ela, correndo para a escada.
Voando pelos degraus acima, agradeceu a náusea que lhe torturava o estômago. Pelo menos, isso a impedia de pensar.
No exato momento em que seu maior desejo era estar morta, a mão carinhosa de Jeff tocou-lhe a testa gelada.
— Ponha tudo para fora, amorzinho — animou-a, agachando-se ao seu lado no banheiro. — Uísque e nervos nunca se deram bem.
Tricia tornou-se receptiva ao firme comando daquela voz amiga, e, sentindo-se amparada pelos braços fortes dele, inclinou-se para trás, suspirando profundamente.
— Está melhor agora?
— Acho. .. que sim.
Viu Jeff levantar-se e remexer no armário de remédios. Observou a linha reta dos seus ombros, seu porte elegante e a tranqüila naturalidade com que se movia pelo banheiro. De repente, pareceu natural à Tricia o fato de vê-lo ali, naquele momento, cuidando dela, fazendo parte de sua vida. . .
Entretanto sabia que iria ser muito difícil quando ele fosse embora. Aquilo...
— Tome — Jeff entregou-lhe um copo — isto vai fazê-la sentir-se melhor. — E, enquanto ela bebia o líquido efervescente, enxugou-lhe a testa e as faces. — Está melhor?
Tricia fez que sim.
— Agora, cama. Venha, vou ajudá-la.
Envolvendo-a delicadamente pela cintura, começou a levá-la em direção ao quarto.
— Jeff?
— O que é, amorzinho?
Sua voz era suave, o olhar, gentil e acariciante. "Não vá!", ela queria gritar. "Por favor, não vá! Não saia de minha vida!" No entanto, disse apenas:
— Você não vai me perguntar? —: Perguntar o quê?
— Se eu... se eu seduzi aquele homem?
— Não — respondeu Jeff, com a voz carregada de emoção.
Olhando para o rosto intranqüilo de Tricia, ele podia sentir o quanto aquela criatura fora ferida pela maldade de dois homens, absurdamente egoístas e irresponsáveis.
Apoiando-a ainda, sentiu vontade de tomá-la nos braços e niná-la, como a uma criança vulnerável e indefesa.
— Eu não o seduzi — disse, com voz trêmula. — Eu não. . . eu não faria algo assim.
— Eu sei — disse Jeff, enxugando-lhe as lágrimas.
— Ele me violentou! Ele...
— Eu sei, amorzinho. Oh, meu Deus, eu sei!
Ele a envolveu nos braços fortes. Com o rosto afundado em - seu peito, as mãos agarrando-lhe a camisa, Tricia derramou todas as lágrimas que, há muito tempo, lhe queimavam os olhos. Chorava porque Jeff acreditava nela; chorava porque Dennis não havia acreditado, chorava porque lhe parecia bom compartilhar a sua dor com aquele homem. Finalmente, ele a pegou no colo, levando-a para a cama. Ajoelhando-se no tapete, ficou a alisar-lhe os cabelos, enquanto as sobras da noite iam-se adensando pouco a pouco. Tricia soluçava.
— Preciso tomar banho — disse, enfim, tentando levantar-se. — Sinto-me tão suja!
Percebendo a origem daquelas estranhas palavras, ele a reteve:
— Não, você não está suja! O que aconteceu não a torna suja. Isso é um absurdo!
— Dennis pensou que eu estava.
— Ao inferno com Dennis! — Jeff sibilou entre dentes.
— Não vá embora — Tricia murmurou insegura e ansiosa.
— Eu não vou, amorzinho. Fique tranqüila.
— Sinto frio. Muito frio...
Ele aproximou mais de si o corpo que tremia; lágrimas desciam silenciosas pelo rosto viril.
— Jeff? Está chorando?
— Durma — sussurrou ele, beijando-lhe as pálpebras fechadas.
Esgotada, envolta na segurança daqueles braços vigorosos, Tricia dormiu. E somente então ele realmente chorou. Chorou como uma criança, enquanto puxava a coberta sobre a mulher que tanto amava."